“Botando pra quebrar a língua”, por Tetsuo Takita

Leia o texto que o Quebradeiro Tetsuo Takita escreveu sobre a aula do dia 2 de agosto “Preconceito Linguístico“, com a Profª. Vilma Guimarães.

02/08/2011
Retorno das Férias
”Botando prá Quebrar a Língua”!
por Tetsuo Takita

Na era digital, para mim é um desafio escrever um manuscrito, ainda mais de “prima”, sem rascunho. Mas o prazer vence a dor e, sendo assim, quero dizer que o dia hoje foi especial, ou pra lá de especial!

O retorno das férias dos ”quebradeiros”, às vésperas da chegança da nova turma da Universidade das Quebradas, que como bem falou a professora Amara, agora vai à periferia, no caso agora à Biblioteca da Comunidade de Manguinhos, e que meu amigo Marcelo Patrocínio, a quem tive o privilégio de conhecer e trabalhar junto ano passado no projeto Apalpe – a Palavra da Periferia, faz parte.

O Apalpe, foi idealizado por Marcus Faustini, e com suporte acadêmico da Querida Heloísa Buarque de Holanda, (que vim a conhecer pessoalmente lá, além de outros grandes amigos que agora também estão nas ”Quebradas”), e teve o apoio da Petrobrás.

Hoje também é véspera da exposição no Parque Lage, ”Periferia.com”. Estava em dúvida, se a abertura seria as 15h, como tinha sido postado no Facebook, mas parece que será as 19h, uma pena, horário que meu trabalho não permite ir, mas a convite da Helô ajudei a selecionar os trabalhos. A professora Vilma já chegou arrasando, com letra de música do Caetano falando sobre a Língua e depois passou um vídeo super interessante sobre o nosso fantástico idioma e suas diversas vertentes linguísticas, o português é lindo e complexo.

Ah, antes disso ela trouxe crachás personalizados, que fez amorosamente para nós, cada um deles dizia sobre alguma parte da nossa personalidade. No caso, só imagens, coloridas, foi com capricho, achei. As cordinhas para pendurar no pescoço combinavam com a cor da moldura dos mesmos, que continham desde quadros do Salvador Dali, a uma cadeira de diretor com claquete, a que rapidamente a Cris Hare se identificou. Eu fiquei em dúvidas entre Dali e a imagem de mãos digitando uma mensagem simples de texto no celular (SMS). Que tem mais a ver com o processo em que estou envolvido, da oficina de capacitação que desenvolvi na época do Apalpe e agora poderei realizar com o apoio do SESC e amigos queridos.

” Vamos fazer um filme? Crie sua Mob novela Futurista da Periferia.”

Não sou muito fã da da Globo pela questão óbvia de dominação pseudo-camuflada que ela impõe a uma nação colonizada e domesticada, e que assiste um noticiário água com açúcar, nas modalidades, mistura para o seu almoço ou dobradinha para sua novela preferida. Ridículo! Porém tenho que admitir que a Fundação Roberto Marinho tem lá seus méritos acertados, um acerto é o programa que vimos e faz parte do novo Telecurso e que a professora convidada é a diretora. Um programa de qualidade e que abordou o tema das diferenças na língua, exemplo o português do Brasil e de Portugal, e até no próprio país.

Depois do intervalo, houve preparado pela Rô o gostoso lanche de praxe, e as pessoas puderam colocar o papo em dia, que na internet, só por ela, não concluíram, ou não puderam fazê-lo.

Na segunda parte, íamos continuando o debate, como foi acordado, antes, no primeiro semestre, que ao invés de uma outra aula com um professor diferente, teríamos uma conversa entre nós, sobre a aula da primeira parte da tarde, que aliás, foi maravilhosa, ótima, e onde tive a oportunidade de comentar, que eu mesmo por ter vindo do Sul – de Santa Catarina, vivo isso ainda, as diferenças de termos e palavras, exemplo x-salada, aqui é ”podrão”, bolacha aqui é biscoito. O tempo todo me divirto, como muda de um lugar pra outro, mas como uma colega comentou todos acabam se entendendo por um esforço de unidade.

Agora, na segunda parte os ânimos esquentaram quando o colega Feijah’N fez uma observação de que o pessoal da filmagem que registra as aulas já havia ido embora (embora o Alexandre estava registrando o áudio da aula, no caso do debate. Carol cuidou do microfone. O Geléia também fez comentários pertinentes; a professora Beá, comentou que se sente mais a vontade para falar sem a pressão da luz e câmera, e que vai saber com a produção o porque da segunda parte não ser filmada. Ainda na 1ª aula:

Eu comentei, que o que sai da norma é combatido imediatamente, na nossa sociedade, até aproveitando o gancho do Geléoia que comentou sobre seu filho que lhe pediu um celular de presente.

Falando sobre a questão da linguagem para mensagens em internet ou celular, sobre o assunto da norma intelectual, foi um concenso de que a linguagem coloquial usual não é inferior, aliás é a forma natural de comunicação, a outra é que foi construída e instituída, como bem citou a nossa professora poeta Numa Ciro.

Eu comentei também que acho mesmo (lembrando que foi uma aula supimpa, tupi, ganhamos um livro de Paulo Freira – presente da professora, que trabalhou com o mesmo e foi aluna de Hélder Câmara, bispo super humano. E hoje ganhamos a camiseta das ”Quebradas” linguaruda, léxica, divertida, libidinosa, falando agora mais como poeta, com licença, pelo prazer proporcionado advindo da liberdade linguística que as pessoas têm medo de experimentar), bem, eu comentei, que às vezes, o que fazemos nas ”Quebradas”, pode ser visto como uma afronta ao sistema, um início de revolução, visto a minha teoria de que vivemos não numa democracia, mas numa ditadura disfarçada, velada, falsa democracia; Repetindo: tudo que sai da norma é combatido com afinco. Então, sendo assim, nossos encontros calorosos quando espiados por registros fílmicos poderiam ser um ”tiro no pé” no sentido, de ser uma afronta muito direta ao sistema, se ”eles” souberem que nós estamos ligados, como diria Aderaldo Luciano parafraseado por Beá Meira, ”temos de surfar as ondas contrárias”, para manter-nos de pé na nossa utopia eu diria, negociando com o sistema mas firmes no nosso objetivo de transformá-lo, mas sabendo que às vezes batermos de frente com ele não é a melhor saída, visto que por enquanto ele infelizmente, engendrado e engessado por séculos ainda é mais forte que nós. Por isso, como na Arte da Guerra de Sun Tsu, ficaremos próximos dos amigos e mais próximos ainda dos nossos inimigos para burlar os ‘podres poderes’ e não sermos engodados por ele. As metodologias e a academia arcaica são necessárias, nossos companheiros estão infiltrados até como professores, mas sabem que não fazem parte da sujeira deles. Unidos faremos um mundo melhor e venceremos! Tá ligado piá?

Helô; Isso é quebrar tudo… Só na paz!

P.S. Sara logo o joelhinho lindo. Beijo!

Ass: Tetsuo Takita – 2/8/11