Apontamentos e desapontamentos sobre o Cordel brasileiro, com Aderaldo Luciano

A arte, e portanto a literatura, é uma transposição do real para o ilusório por meio de uma estilização formal da linguagem, que propõe um tipo arbitrário de ordem para as coisas, os seres, os sentimentos.
Antônio Cândido.

Na ultima terça-feira, tivemos uma excelente e esclarecedora aula sobre a literatura e a poética do Cordel, ministrada pelo doutor e mestre em Ciência da Literatura, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, professor, poeta, escritor e músico, Aderaldo Luciano. Num clima bem descontraído, a aula teve inicio com um pequeno baile nordestino ao som da canção Lindo lago do amor de Altimar Monteiro, para os quebradeiros entrarem na atmosfera.

Denomina-se literatura de cordel, ou simplesmente cordel, a um tipo de poesia popular que, durante muito tempo, era impressa em folhetos rústicos. Essa literatura  nasceu no séc. XIX , fruto da confluência para a cidade de Recife, dos poetas Leandro Gomes de Barros, João Martins de Athayde, Francisco da Chagas Batista e Silvano de Lima, que fazem parte da chamada geração princesa do cordel.

Na maioria das vezes os livrinhos de cordel são impressos em papel barato, tem o formato de oito páginas, que é justamente uma folha de papel tipo A4 dobrada duas vezes, e o mais comum é um cordel ter até 32 estrofes. Mas isso não é regra. Se o tema é mais abrangente o folheto pode ter 12, 16, 20, 32 páginas ou mais. Nesse caso passa a se chamar Romance.

Para Aderaldo, a literatura de cordel não deve ser considerada como arte popular, pois o trabalho feito por um poeta popular é o mesmo que qualquer outro poeta, e deve ser recompensado financeiramente e reconhecido da mesma maneira.

Leandro Gomes de Barros (1865 – 1918) chegou no Recife vindo do sertão, com a cabeça cheia de poesia. Comprou as máquinas de impressão e passou a fazer, imprimir e vender seus poemas escritos em sextilha. Depois de sua morte João Martins Athayde comprou o espólio da viúva de Leandro e montou sua oficina em um casarão, substituindo o nome de Leandro pelo seu, em vários poemas já publicados.

Existem algumas inverdades ditas a respeito da literatura de cordel.  Por causa de suas rimas, muitos acham que o cordel é uma atividade oral (repente), o que não é verdade. A forma poética também não foi trazida de Portugal, ela foi concebida aqui no Brasil, no século XIX .  É importante destacar ainda que somente a partir da década de 50 do século XX as capas dos cordéis passaram a ser ilustradas com xilogravuras, ou seja, com impressões de desenhos feitos originalmente em madeira. Atualmente, porém, a ilustração das capas dos folhetos tem sido elaborada por outros meios, demonstrando a autonomia do cordel em relação à xilogravura. Importa lembrar que, no Brasil, os folhetos nunca foram vendidos pendurados em barbantes e que o nome cordel, foi usado por um estudioso francês de literatura.

A literatura de cordel é um retrato vivo da realidade cultural e política  nordestina que deve ser mantida , reverenciada e  atualizada, para despertar o interesse de novos leitores e manter a memória afetiva de toda uma geração que foi criada lendo cordel.

Leitura Complementar:
O violino da morte- Maria das Neves Pimentel (primeira escritora de cordel)
Pavão misterioso – José Camelo de Melo Rezende.
O marco brasileiro – Leandro Mello de Barros.
Morte e vida  Severina- João Cabral de Melo Neto