Pós aula: Centro e periferia na dança com Silvia Soter

Na primeira aula do ‘Universidade das Quebradas’ de 2013, a professora Silvia Soter mediou a discussão sobre centro e periferia na dança. Traçando um paralelo entre a ousadia e inovação do Ballet Russe, que desafiou a estética de sua época na Paris de 1913, com a Sagração da Primavera de Igor Stravinsky e o movimento do hip hop nas periferias.

A ideia de como o espaço é pensado na dança e  de como os elementos são dispostos numa busca por coesão iniciou a aula. Silvia seguiu mostrando que a composição do espaço, nada mais é do que dispor os elementos uns em relação aos outros de modo a construir um todo que faça sentido.  Essa noção, que serve tanto para teatro quanto para cinema, levou a ideia de que toda obra é fruto de seu tempo, podendo trazer questionamentos presentes na sociedade ou antecipar questões filosóficas e políticas.

A  ciência desse espaço leva a caminhos que mostram como são construídos os diferentes pontos de vista  sobre determinada questão e como esses limites estão presentes quando pensamos nos marcadores  e na relação entre centro e periferia. O palco é visto como solução, como um lugar em que não existem limites, mas múltiplas oportunidades.

Para encerrar a aula, Silvia Soter apresentou três trechos de montagens da Sagração da Primavera:

Sagração da Primavera de Nijinsky, 1913

Reconstrução para o filme Coco Chanel & Igor Stravinsky de 2009.

 

Sagração da Primavera da alemã Pina Bauch, 1975

 

Sagração da  Primavera de Béjart, 1970

 

 Primeiro Território de 2013: para quem a Cidade é Maravilhosa?

No segundo tempo aconteceu o Território, mediado por Feijhan, apresentado por Numa Ciro e as quebradeiros Hare e Sandra Maya. Para abrir os debates, Numa falou sobre sua experiência de morar em Portugal durante a maior parte do ano passado. Depois de passar 10 meses no país, ela destacou a eficiência dos serviços públicos na Europa e o atraso do Brasil e do Rio em relação a políticas básicas como educação, saúde e transporte.

O tema deu o que falar depois da exibição do curta sobre o Rio feito pela produtora Cavideo, onde Sandra Maya trabalha. O filme foi produzido para mostrar a beleza da Cidade Maravilhosa, candidata desde 2009 a Patrimônio Cultural da Humanidade, e apresenta os bairros, as paisagens e os personagens mais “conhecidos” da capital fluminense.

Mas e o que não aparece? E as belezas que vão além do Corcovado e do Pão de Açúcar?

O Rio tem muito mais do que é mostrado para o mundo. Outras riquezas e muitos problemas são escondidos por trás do calçadão de Copacabana e da garota de Ipanema. A cultura das periferias e o dia-a-dia de ralação dos verdadeiros cariocas ficam esquecidos.

Os quebradeiros debateram as dificuldades já existentes na vida do cidadão do Rio e pensaram as complicações que a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos que se aproximam trarão. Denunciaram a especulação imobiliária; a cidade cartão postal está sendo vendida para a burguesia internacional.

Para finalizar, Hare afirmou que políticas públicas básicas que funcionem com eficiência são um direito. Mas, apenas a organização e a mobilização podem mudar a situação de pouco caso a que a população é submetida. Falar, apontar e criticar são o primeiro passo, mas precisam da ação. Para ela, a frase que resume essa ideia é: “fora da articulação, não há salvação”.

E a articulação entre quebradeiros pode e deve fazer a diferença. Conhecer, ajudar e compartilhar ideias e projetos é mais do que um primeiro passo, é o começo da corrida.

 

 Bárbara Reis e Júlia de Marins, Bolsistas PIBEX/UFRJ
Foto: Beá Meira