Histórias de roleta, por Sandra Lima

Como sempre, no ônibus, no trem, no bar, na igreja, seja onde for, adoro conhecer pessoas, ouvi-las, bater papo, olhar nos olhos. Hoje tive mais uma experiência incrível na minha vida, dentro do Caxias-Freguesia. Conheci Ana Chele, a cobradora, que tem dois cadernos grandes com histórias de passageiros. Histórias tristes e engraçadas. Ana estuda gastronomia, mas é a psicologia a sua paixão. Ela não quer fama, não quer ficar rica escrevendo essas histórias, ela apenas se importa!

Me contou alguma das suas histórias, e o longo trajeto até Vaz Lobo foi uma doce aventura nas aventuras da Ana. Disse a ela que somos iguais, foi emocionante a forma como me vi nela. Ela me disse:

– Eu queria poder ajudar mais as pessoas, choro e rio com elas, chego em casa e fico pensando em cada um que conheci naquele dia.

– Você ajuda muito. Um sorriso, uma palavra, muitas vezes é tudo que se precisa, respondi.

Desci do ônibus levando comigo uma nova emoção, e os contatos de uma nova futura amiga.

Leiam a seguir uma das histórias contadas por Ana Chele.

“O corno apaixonado”, por Ana Chele

Era uma tarde de sol, o trânsito engarrafado, tudo parecia normal. De repente, um belo rapaz entra no Caxias–Freguesia, senta no banco perto da roleta e, alguns minutos depois, estava em prantos. Ana Chele, a cobradora-psicóloga, atenta a tudo e a todos a sua volta, vira-se para o belo rapaz e pergunta:

– Como posso ajudá-lo? O que houve?

Ele desabando em lágrimas, diz:

– Peguei minha mulher com outro na minha cama. Faço tudo por ela, trabalho duro para comprar seus perfumes, cremes e as roupas caras que ela gosta, eu não merecia isso!

Ana diz:

– Nossa! você é um belo rapaz, e ainda faz tudo por ela, você não merece isso, larga essa mulher.

Daquele dia em diante surgiu uma grande amizade entre a cobradora e o passageiro. Algum tempo depois, ele a procura e diz que está tudo bem, que perdoou a esposa, mas que ficou sabendo que ela aparecia em uma página na internet em fotos comprometedoras, e pediu a Ana para ir com ele a uma lan house, pois ele não tinha coragem de fazer isso sozinho. Assim, após o expediente, Ana foi com o rapaz até a lan house. Ao chegar na porta, ele desaba em lágrimas, fica paralisado na entrada e Ana pergunta:

– Você ama essa mulher?
– Amo.
– Você tem certeza que quer ver isso?
– Não! responde em prantos.
– Então não verá!, diz Ana rasgando o papel com o endereço virtual que está em suas mãos.

E aconselha o rapaz a não fazer nada de cabeça quente, refletir, e seguir adiante sem olhar para os erros do passado, perdoar, e pensar no presente e futuro da relação.