Literatura Oral no 2o Território das Quebradas

Dia de Território das Quebradas é, mais do que qualquer outro, dia de conhecimento e de muita troca. Seguindo esse princípio à risca, Felipe Araújo, Luiz Fernando Pinto, Tom, Joana D’Arc, Delano e Poeta Xandu compuseram, com a mediação de Santiago, a segunda mesa da UQ, trazendo para a sala de aula uma visão aprofundada e particular sobre o tema Literatura Oral. Em seguida, o primeiro Sarau do Território das Quebradas contou com a apresentação de poesias, contos e músicas desses Quebradeiros que não dormem no ponto – e aproveitam cada segundo para mostrar seu ponto de vista de forma criativa e contagiante!

Com o tema Literatura periférica no sertão, Felipe abriu o seminário mostrando as semelhanças entre a construção da imagem do sertão e da periferia. “Sertão pode vir da palavra desertão”, ressaltou explicando uma das possíveis origens da palavra. Além disso, falou sobre sua experiência como poeta de rua: “Esse trabalho me permite alcançar muitas pessoas diferentes”.

No segundo momento, Luiz Fernando Pinto, trouxe para o Território o tema Literatura Oral e teatro, através do qual exaltou a figura do folclorista, antropólogo e jornalista Luís Câmara Cascudo. O Quebradeiro contou à turma como sua trajetória se entrelaçou com a de Cascudo: “Quando me formei na escola ganhei um livro dele, mas na época não liguei”, disse. “Hoje ele é uma referência para o meu trabalho”, completou, ressaltando também a importância do pertencimento para a adesão à língua.

Epopeia e hip hop se misturaram na apresentação de Joana D’Arc. Com uma explicação rápida do significado do gênero literário e dos elementos da cultura hip hop, a Quebradeira afirmou que muitas histórias da periferia poderiam estar na Ilíada: “Se falarem com qualquer um aqui aposto que terão histórias de vida muito mais heróicas que qualquer Ulisses”. Joana fechou sua apresentação com chave de ouro, ao reproduzir a música Um homem na estrada, do Racionais MCs.

Já Tom falou sobre Rap e poesia periférica. De carona no tema de Joana, o Quebradeiro abordou a história do hip hop, trazendo algumas letras e poesias marcantes na história do movimento, como trechos de Malcom X, Racionais MCs e Sabotage, além de marcar as diferenças entre os rappers dos anos 90 e os atuais. Tom leu também trechos de suas poesias, e inclui a UQ na roda: “Liberdade pra Universidade das Quebradas. Rap e compromisso: esse é o hino que me mantém vivo”.

Em seguida, Delano trouxe para a mesa a Literatura Pop. “Temos que tomar muito cuidado com as definições do pop e da literatura pop. Nem todo autor é pop, mas tem livros que cabem nessa definição.” Para embasar sua teoria citou Machado de Assis: “Não diria que Machado é pop, mas Dom Casmurro é”. Algumas das marcas desse tipo de literatura estão na linguagem rápida e direta, na rua como cenário e na cultura de massa como destaque. Entre muitos outros autores, Delano escolheu Jack Kerouac e seu Pé na Estrada – marco da beat generation – e Paulo Lins, com Cidade de Deus.

Encerrando o segundo Território das Quebradas, o Poeta Xandu apresentou o tema Poetizando o break, em que falou sobre a importância e as diferenças entre os elementos da cultura hip hop. Além disso contou sobre sua experiência no movimento e mostrou seu blog, onde costuma se dedicar ao assunto com maior profundidade.

A grande novidade do dia foi o Sarau do Território das Quebradas, onde cada participante da mesa teve a oportunidade de divulgar seu trabalho e apresentá-lo aos outros Quebradeiros. Felipe, Luiz Fernando, Poeta Xandu e Joana D’Arc leram textos de suas autorias, enquanto Delano e Tom animaram a galera ao som do rap.

A Universidade das Quebradas teve o prazer de receber também a participação do escritor paulista Buzo e do rapper Dudu. O primeiro, autor dos livros Ser humano convicto e Hip hop visto de dentro, recitou algumas poesias e fez uma breve declaração sobre seu trabalho na periferia. Já o segundo, um dos coordenadores do site Enraízados, cantou trechos de algumas músicas e enfatizou como as Quebradas têm ganhado cada vez mais um papel central no dia a dia dos alunos e de todos da sociedade.