O melodrama das novelas nacionais invadiu a UQ

Entre ensaios e preparações finais para a tão esperada formatura, aconteceu a última aula das quebradas no CBAE nessa terça-feira. O escritor e roteirista Guilherme Vasconcellos encerrou o ano letivo em grande estilo, com uma análise sobre a “Teledramaturgia brasileira, um gênero nacional”.

Guilherme começou a aula apontando que as opiniões sobre a qualidade e o papel da televisão sempre foram bastante dividas. Segundo ele, a TV é o lugar da arte contestável. E não poderia ser diferente com as telenovelas. Há quem defenda que a teledramaturgia é o lugar dos marxistas que vendem maus exemplos ou que é um poderoso instrumento de manipulação das massas e há, também, quem fique em cima do muro.

Fato é que as novelas, em toda a sua história, nunca estiveram alheias ao que acontece no “mundo real” e que muitas vezes estiveram claramente relacionadas com a política. Guilherme nos expôs essa relação através de diversos personagens que foram inspirados em personalidades políticas. Como, por exemplo, o papel de Marconi Ferraço, da novela Duas Caras, que foi inspirado na vida de José Dirceu.

E da mesma forma que a novela desempenha, em diversas ocasiões, um papel político, ela pode também ter uma função social bastante positiva, afirma Guilherme. Segundo ele, quando a TV dá exemplos de cidadania, contribui com a quebra de preconceitos, evoca discussões tabus, fala sobre cultura ou orienta a população de seus direitos e deveres, ela é capaz de promover reflexos sociais significativos.

O escritor destaca também a importância de se pensar o papel das novelas no mundo. Sim, no mundo. Guilherme nos mostrou como as novelas brasileiras viraram um produto de exportação. Muitas delas são consumidas e reproduzidas em dezenas de países. Um bom exemplo da influência de novelas brasileiras em outros países está em Luanda, capital da Angola. O maior centro comercial da cidade recebe o nome de “Roque Santeiro”, novela de grande sucesso no Brasil na década de 80.

E Guilherme nos fez perceber que essa é uma demonstração clara de que vivemos na época da indústria cultural, em que produtos, informação e cultura são reproduzidos para massas. O professor nos ensinou que o romantismo é a maior expressão dessa cultura de massas e mostrou o quanto esse movimento artístico, político e filosófico do século XVIII está presente em nossas vidas, principalmente através do melodrama.

O melodrama, como Guilherme nos explicou, surgiu no teatro, passou pelos folhetins, radionovelas e hoje tomou conta da televisão. O escritor conta que as novelas hoje são produzidas em um formato padrão, todo baseado no melodrama. Histórias de personagens heróicos, mocinhas que são perseguidas por malvados vilões, mães que se sacrificam por seus filhos, encontros e reencontros planejados pelo destino, tudo isso são elementos melodramáticos que estão presentes em todas as novelas.

Porém, Guilherme afirma que antes de encontrar um formato tão rígido as novelas eram criativas e que apesar dos ingredientes serem os mesmos, a forma de combiná-los era diferente, era inventiva, e, por isso, a qualidade também era outra. O professor nos dá o exemplo da roteirista Janete Clair, comparada por ele aos líderes Xamãs, que têm acesso ao invisível e ajudam as pessoas com suas narrativas.

Mas Guilherme nos alerta de que o modelo melodramático foi criado em um mundo diferente, em que a população rural superava a população urbana, e que hoje vivemos outra realidade. A população urbana já superou a rural e isso indica mudanças. Para Guilherme, o melodrama precisa se renovar porque a realidade que o criou já não existe mais.

Durante o papo depois da aula os quebradeiros discutiram juntos com Guilherme Vasconcellos questões sobre o papel da televisão na educação de crianças, classificação etária de programas e a diferença entre o melodrama e a tragédia. Além disso, conhecemos um pouco mais sobre a TV Hare. As quebradeiras Cristina Hare e Denise Kosta nos contaram sobre a experiência de produzir uma novela com episódios de 3 minutos e com um enredo repleto de elementos melodramáticos.

Para conhecer a TV Hare acesse: http://www.tvhare.com/

Texto: Camila Romana, bolsista PIBEX 2011

Foto: “Inside the Film Production campus” por vancouverfilmschool