Para conhecer e amar os índios, pós aula

Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.

 Oswald de Andrade

 

Na última terça tivemos a brilhante palestra com o professor doutor, Mércio Pereira Gomes, o primeiro acadêmico a escrever sobre a sobrevivência dos povos indígenas no Brasil. Por conta de seu trabalho como antropólogo foi convidado para ser presidente da FUNAI no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (setembro de 2003 a março de 2007). Nesse papel Gomes ajudou a realizar a homologação de 66 novas terras indígenas, inclusive a controvertida e problemática Terra Indígena Raposa Serra do Sol, que somam uma totalidade de 11 milhões de hectares, aumentando o percentual de terras indígenas em proporção ao território brasileiro em dois pontos.

Inspirado pelo titulo de seu novo livro “Para conhecer e amar os índios”, Mércio iniciou a palestra com o seguinte pensamento: “Só se pode conhecer algo verdadeiramente quando se ama. O amor é a 5ª dimensão do conhecimento”. E foi a partir disso, que  o professor traçou um panorama da situação de algumas tribos indígenas atualmente no Brasil .

Ele falou sobre o equivoco em relação ao nome índios, pois não eram nativos da Índia, e do fato de serem povos diferenciados com culturas variadas, línguas diferentes, mas compartilhando historias de migração. Existiam cinco milhões de índios em terras brasileiras na época do descobrimento e mais 1.200 povos diferentes que podiam falar até 1000 línguas diferentes.  Ainda hoje são faladas 170 línguas provindas de 10 troncos linguísticos, tais como: Macro-jê dos índios Cariri, o Aruak falado pelos Kamayurá e outras tribos do Mato Grosso do sul até a Florida, o Karib e o Tupi falado pelos guarani.

Mercio nos contou de como os índios trabalharam de forma servil, na monocultura da cana de  açúcar e como os Tupinambás, que ocupavam as regiões litorâneas do Brasil, sofreram os primeiros massacres pelos portugueses. Os Tupinambás, eram conhecidos por diferentes nomes tais como; Tabajaras, Tamoio, Potiguara, Tupiniquim e constituíam uma nação de aproximadamente 1 milhão de indivíduos.

Os jesuítas, que praticavam o catolicismo da contrarreforma,  chamavam os índios de “alma inconstante”, pois  podiam rezar em latim e praticar canibalismo no momento seguinte. Achavam que só seria possível reduzi-los ao monoteísmo “A ferro e a fogo”.

O professor mostrou imagens de rituais como o Quarup, que acontece no Xingu, onde 12 povos diferentes foram reunidos, do ritual de treinamento dos adolescentes guerreiros Xavantes e nos contou sobre o comovente e complexo ritual de enterramento dos índios Bororo.

Comentou sobre o tratamento dado às crianças indígenas, que desde cedo são estimuladas a ser autônomas, e que esse processo de formação familiar foi algo que encantou os europeus. Falou sobre a relação do genro e sogro que envolve trabalho.

Mercio mostrou como a cultura indígena faz parte da constituição do povo brasileiro. Poucas mulheres vieram para o Brasil no primeiro século de colonização e os negros escravizados, sobreviviam aqui em média por 10 anos, de modo que, as mulheres  indígenas foram as mães dos brasileiros.

Perguntado sobre o papel das mulheres na cultura indígena, Mercio explicou que com o surgimento da agricultura e do sedentarismo, a mulher ganhou mais poder político e social, e que pode ter havido uma era de dominância matriarcal entre os povos da antiguidade. Contou também o mito grego das Amazonas, que eram mulheres guerreiras. E que o rio Amazonas deve seu nome ao fato de a expedição do explorador espanhol Francisco de Orellana, em busca do mítico Eldorado, ao descer o rio Amazonas dos Andes peruanos até a Ilha de Marajó, teria lutado com uma tribo de mulheres, chamando o lugar de “lo rio das amazonas”.

Nos dias de hoje, as perspectivas para os indígenas no Brasil não são tão animadoras, apesar do crescimento da população, existe um fluxo migratório para as cidades, o que gera o perigo de abandono das terras indígenas. Faz-se necessário o combate à indiferença da população brasileira em relação aos povos indígenas.

 

Leitura Complementar:
PEREIRA GOMES, Mércio. O índio na história. O povo Tenetehara em busca da liberdade, Petrópolis, Vozes, 2002.
PEREIRA GOMES, Mércio. Antropologia hiperdialética: incluindo o ensaio “São os Guajá hiperdialéticos?, São Paulo, Contexto, 2011.

Site:
Povos indígenas do Brasil: http://pib.socioambiental.org/pt

 

 

Octavio Neto – Bolsista PIBEX PACC\UFRJ

Foto: Beá Meira