Ping pong com Mauricio Medeiros, nosso paparazzo.

“Fotografia é a arte de escrever com a luz!”, define o quebradeiro Mauricio Medeiros. O fotógrafo chegou à Universidade das Quebradas, em 2010, primeiro ano do projeto. Ele desenvolvia um trabalho de ensino da fotografia, chamado “Pontinhos de Cultura”, com os alunos da rede pública municipal de Nova Iguaçu. Maurício soube do projeto das Quebradas pelo então Secretário de Cultura de Nova Iguaçu e Conselheiro da Universidade das Quebradas, Marcus Faustini. Hoje, o quebradeiro conta um pouco sobre sua vida e trabalho.

 

De onde surgiu seu amor pela fotografia?

Quando éramos crianças (eu e meus irmãos) lembro-me que minha mãe tinha uma câmera fotográfica antiga, fabricada no Brasil pela Kapsa na década de 1950 e que ela adquiriu em 1953. A câmera parecia uma caixa preta e era super-resistente e robusta, de bom acabamento (ainda tenho essa câmera). Achava curiosa a forma daquela máquina. Há várias fotos da família registradas por este modelo. Minha mãe fotografava bem! Tinha um bom domínio! Mas minha relação com a fotografia não surgiu deste fato. Talvez não de uma forma consciente…

É importante dizer que sempre tive uma ligação forte com a arte. Foi assim quando me aproximei da música (tinha uns14 anos/15 anos). Estudei teoria musical, violão clássico, harmonia… Evidentemente, não me aprofundei na arte musical. Fotografia se tornou o complemento dessa paixão artística. Encontro nela essa mesma relação musical que trago em mim. A cada registro e trabalho fotográfico que realizo é prazeroso e soa como música para os meus ouvidos.

Você se inspirou em alguém? Com quem aprendeu?

Comecei a fotografar de forma muito espontânea e despretensiosa e em um determinado momento percebi que precisava me aprofundar mais. Entrei para o SENAC/RJ e estudei durante um ano e fiz alguns cursos de aperfeiçoamento também. Não posso afirmar que tenha me inspirado em alguém. É claro que como fotógrafo também tenho meus ícones como Henry Cartier-Bresson que utilizava a fotografia como arte, como as pinturas que criava. Henry acreditava que a câmera podia trazer o mundo em imagens. E é exatamente isso! Sebastião Salgado, outro mestre premiadíssimo do fotojornalismo com seu trabalho engajado em causas pelo mundo a fora. A primeira sensação que tive ao conhecer as obras de Sebastião Salgado foi à emoção de estar olhando a construção de uma imagem. Sua predileção em trabalhar contra luz era “totalmente instintiva”, ele dizia.

Você tem um projeto na baixada fluminense? Como e onde funciona?

Em 2008, participei e ganhei um edital cultural na Prefeitura de Nova Iguaçu, em convênio com o Ministério da Cultura. Por questões de ordem burocrática e administrativa do Governo, as aulas só começaram efetivamente em 2010. O projeto era direcionado ao ensino da fotografia para alunos do 2º segmento das escolas da rede municipal e as aulas eram ministradas em duas escolas da rede, em um bairro da periferia da Cidade, chamado Cerâmica. O objetivo principal era levar o conhecimento da fotografia através de técnicas que valorizassem e estimulassem o olhar fotográfico de uma forma contextualizada e criativa. O exercício era constante e fundamental para essa compreensão. Criamos nosso laboratório fotográfico, também.

Agora, em 2013, pretendo retomar um trabalho que iniciei, em 2011, com meu amigo, também quebradeiro, Marcelo de Almeida (ator, professor e diretor de teatro) intitulado “Poesia e Botequim” que leva a palavra como forma de expressão artística e poética, num ambiente de concentração pública (Bares e Botequins). Convidamos sempre os amigos poetas, escritores, mas a participação do público itinerante é fundamental nesses encontros.

Quais as dificuldades de viver como fotógrafo, hoje em dia, com toda essa tecnologia nos celulares e câmera, além de programas de edição?

Essa pergunta é bastante oportuna. Na década de 1990, fotografava muitos eventos sociais com equipamento médio formato, que eram câmeras mecânicas profissionais pesadas que utilizavam filmes chamados 120 mm; davam negativos excelentes – 6×4,5cm – com cópias e ampliações nítidas e cada filme comportava 15 chapas (fotogramas), em média. Imagina a cada 15 fotos “batidas” ter que trocar o filme… era uma correria. Exatamente no ano de 2000, fui “intimado” a comprar equipamento digital se quisesse permanecer no mercado de trabalho. Nesta época, trabalhava para um grande estúdio do RJ e era fotógrafo freelancer. O material era muito caro! Pensei comigo: “É… não tenho como fugir!” Entrei num “acordo” com o estúdio, e eles financiaram a compra. Antes do boom digital, encontrava colegas fotógrafos com formação técnica e profissional como eu pelos cantos da cidade trabalhando. A tecnologia e essa “democracia digital” proporcionou e ampliou o surgimento de novos fotógrafos e muitos sem o menor conhecimento técnico. Isso inflacionou o mercado. Ficou mais “fácil”. Não é preciso mais, por exemplo, estabelecer o número de fotos por eventos e a prévia das fotos tiradas, quando não estão boas, são descartadas e no mesmo instante tira-se outras. Em 1888, quando a Kodak lançou sua primeira câmera, havia um slogan que dizia assim: “Você aperta o botão e nós fazemos o resto!” Acho que isso vale até para os dias de hoje. Os programas de edição de imagens melhoram o fluxo e ajudam na organização do trabalho fotográfico. Sou adepto e manipulo também esses aplicativos.

Como funciona sua oficina de pinhole?

Uma técnica simples com material como papelão, cola, tesoura, fita adesiva, tinta PVA, filme fotográfico e uma grande dose de divertimento. A construção de uma câmera fotográfica artesanal e funcional utiliza o princípio básico da câmera escura. Um pequeno orifício feito com uma agulha, que permite a entrada da luz que deve ser suficiente para impressionar o filme. Cada aluno pode personalizar sua câmera, sem interferir na funcionalidade dela. O complemento da oficina, antes, necessariamente passa por uma mini aula de fundamentos básicos da fotografia: enquadramento, composição, importância da luz, tempo de exposição e algumas técnicas que ajudarão na obtenção das fotos. As oficinas acontecem, preferencialmente, no mês de abril quando se comemora (sempre no último domingo desse mês) o dia mundial da fotografia pinhole.

Por que resolveu dar aula?

Apaixonei-me por essa técnica em se obter imagens de uma forma tão simples e lúdica. Então comecei a pesquisar e estudar com mais intensidade os princípios básicos e históricos da fotografia. Em um determinado momento de minhas pesquisas encontrei um fotógrafo inglês, Tony Taylor (Inserir link: http://www.pinholephotography.co.uk/pages/gallery_panorama.htm), que constrói câmeras pinhole, que são verdadeiras obras de arte! O cara é um artista! Artesãos que constroem câmeras pinhole com peças MDF de vários tipos e modelos com designer moderno, sem perder a essência da fundamentação dessa forma em capturar imagens. Percebi que precisava multiplicar esse conhecimento simples para quem quisesse se interessar.

Como você se sente ao ensinar aos outros um pouco do que você sabe?

Eu me sinto aluno, também! O aperfeiçoamento e surgimentos de novos equipamentos caminham a largos passos e é preciso estar sempre atualizado e isso exige certo esforço, no sentido de estar o mais próximo possível dessa evolução tecnológica. Pesquisar, ler. Adquirir um conhecimento mais atualizado.

Onde você já ministrou essa oficina? Você aprendeu algo?

Teia Baixada – Territórios Culturais da Baixada Fluminense (SESC Nova Iguaçu); Centro Cultural Justiça Federal, em comemoração aos 15 anos de atividades da TV Pinel; UFRJ/UQ (projeto “A Cara das Quebradas”, por Maria Dias); SESC/Santa Luzia. O aprendizado é constante, porque o resultado das fotos capturadas neste processo surpreende a cada instante.

Qual foi a ideia da foto da quebradeira Hare?

A foto foi tirada na antiga Casa do Estudante Universitário (hoje Colégio Brasileiro de Altos Estudos), no Flamengo e que pertence à UFRJ. Aquela ideia foi uma parceria nossa. Em algum momento dos muitos ensaios fotográficos que fizemos, notamos que o desenho do piso em que estávamos, era similar a alguns detalhes da roupa da Cristina Hare. E a forma geométrica também é um elemento que pode aguçar e apontar o olhar para uma nova perspectiva visual. Hare, além de ser grande atriz é também excelente diretora de arte. Fica até mais fácil assim, né mesmo?

Você acredita que fotografar é eternizar um momento?

Não só eterniza como preserva! Valoriza! Entristece! Alegra! Diverte! Emociona! A imagem fotográfica não necessita de palavras que tentem explicá-la. O olhar já faz a leitura e remete a esses sentimentos que ficam cravados pelo tempo através desta memorável forma de registro.

O que você acha de fotos de paparazzi? Diversão, falta de ética, trabalho justo?

Não acredito que seja divertido. Muito pelo contrário; acho bastante estressante. Esse trabalho requer boa técnica, habilidades específicas, bastante agilidade, conhecimento do seu equipamento e pura logística para a prática. Se olharmos os trabalhos dos paparazzi como uma maneira de satisfazer as necessidades e os desejos das pessoas que compram seus produtos eu poderia dizer que eles estão cumprindo seu papel na indústria do entretenimento. O trabalho é justo porque há interesse no mercado. A discussão da ética deve estar presente sim, principalmente, nas grandes empresas que financiam este ramo da fotografia.

Que conselho daria para um fotógrafo iniciante?

Com os recursos hoje disponíveis e a facilidade de acesso à informação, acho imprescindível o exercício fotográfico. Pratique bastante, conheça bem seu equipamento. Fotografia é a arte de escrever com a luz! Procure entender um pouco sobre as características e as diversas formas de manifestação dessa luz.

A Universidade das Quebradas influenciou sua jornada profissional e pessoal?

Com certeza. Fiz parte da primeira turma da UQ e permaneci durante dois anos (2010 e 2011). Registrei todos os momentos neste período e tenho um acervo fotográfico de vários colegas artistas e manifesto aqui meu imenso carinho e respeito por cada um deles. Sei da arte que produzem, não porque fui aluno e participei das aulas, simplesmente, mas acredito que o meu trabalho com a fotografia se intensificou na medida em que registrava nossos encontros acadêmicos e culturais e a aproximação com essa turma me deixava, de certa forma, parceiro das suas artes. Sentia-me privilegiado por fazer parte daquela turma e ter tido tantos amigos de diferentes vertentes artísticas. Em 2011, recebi um “comunicado” da Heloísa Buarque e da Numa Ciro, de que eu me tornara fotógrafo oficial das quebradas. É claro que aquilo me deixou felicíssimo. Intensifiquei mais ainda meu trabalho com o grupo! A UQ além de proporcionar aos alunos a possibilidade de enriquecimento do conhecimento acadêmico através do curso de extensão, também aproxima desse universo e faz perceber que é possível se aprofundar… No meu caso, fortaleceu um desejo que eu já tinha de retomar os estudos e hoje consegui ingressar na Universidade e faço graduação em Administração Pública pela UFF/CEDERJ.

A Universidade das Quebradas deseja muito sucesso nos próximos flashes!

Por Mariana Mauro (Bolsista PIBEX – ECO/UFRJ)

06/02/2013