Poesia grega e Mil e Uma Noites abriram os salões da UQ

Para dar início à jornada das Quebradas 2011, nada melhor do que os viajar por histórias e mais histórias. A primeira aula dos Quebradeiros aconteceu nesta terça-feira, 22 de março, no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ (FCC). O professor da USP e da UFRJ, Henrique Fortuna Cairus, definiu o conceito de epopeia, falou sobre a poesia grega, seus cantadores e a sua musicalidade e, logo em seguida, Mamede Mustafa Jarouche, da USP, trouxe todas as cores das Mil e Uma Noites em uma viagem inesquecível pelo Oriente Médio.

A poesia grega abriu a tarde com toda a tradição dos poemas Ilíada e Odisseia. Segundo Henrique, os “aedos” eram, na Grécia Antiga, como os repentistas no Nordeste: cantavam poemas sobre as histórias da sua sociedade, as chamadas epopeias gregas, e relatavam lendas e tradições populares com seus personagens e suas aventuras. Parte fundamental na organização social grega, a classe dos cantadores transmitia oralmente suas histórias para que a tradição não se perdesse com os anos. Estima-se que a Ilíada e a Odisseia, por exemplo, só tiveram seus versos escritos muitos séculos depois.

Para os gregos, as histórias cantadas pelo “aedo” Homero na Ilíada e na Odisseia eram verdades absolutas – inclusive pela perfeição do seu formato: são epopeias constituídas por 24 cantos, nomeados de acordo com as letras do alfabeto grego. Os versos que caracterizam a poesia épica são os hexamêtros dactílicos, formados por uma sílaba longa e duas breves. Além da métrica perfeita, hoje uma epopeia é reconhecida por conter o herói e seu discurso heróico, e pelos fatos serem narrados com certo exagero.

Até hoje estudiosos questionam a veracidade da história, da autoria e da própria existência de Homero, e cientistas consideram esta uma questão insolúvel, o que gerou polêmica na aula desta terça-feira entre os Quebradeiros. No entanto, como o próprio professor Cairus explicou, a única coisa que se pode afirmar sobre a obra é que ela se refere a uma época e a um lugar que existiu. E, convenhamos, indiscutível mesmo é a importância das duas epopeias na formação cultural no Ocidente.

Na segunda parte da tarde, foi a vez do Oriente Médio tomar conta dos salões da UQ. Mamede Jarouche conduziu uma aula envolvente e bem-humorada a partir de um panorama da Cultura e das Narrativas Árabes, com ênfase no “Livro das Mil e Uma Noites” – que ele próprio traduziu pioneiramente direto do árabe para o português – e encantou os Quebradeiros em seu primeiro dia de aula.

“Jorge Luis Borges diz que o título ‘As Mil e Uma Noites’ é o mais belo da história da humanidade”, contou Mamede aos alunos. Todos participaram ativamente dos relatos trazidos pelo professor, discutindo sobre o papel homem X mulher no tempo da história e hoje em dia, sobre literatura e sobre o mundo árabe e todas as suas nuances e particularidades.

No final da tarde, o saldo foi de muitas histórias no imaginário de todos os Quebradeiros: e foi só a primeira aula da Universidade das Quebradas. Que venham muitas mais!

 

Para saber mais sobre os temas:

Leitura recomendada por Henrique Cairus: “Os mestres da verdade na Grécia arcaica”, de Marcel Detienne, Editora Zahar

Veja também o Programa de Altos Estudos em Representações da Antiguidade da UFRJ (Proaera)