Pós Aula: O que é a poesia? Com Chacal

A segunda aula da Universidade das Quebradas na Rocinha foi animadíssima. Com a presença do poeta Chacal, os novos quebradeiros participaram de uma discussão que começou em torno da poesia e terminou num debate acirrado sobre a independência do artista para produzir sua própria arte.

Ao falar sobre sua concepção de poeta, Chacal falou sobre a relação da poesia com a música e sobre como o poeta é alguém que é capaz de aliar a palavra ao ritmo ao interpretar a palavra escrita. Para ele, poesia é também performance.

Busco a potência da palavra.
Comecei com o Oswald de Andrade, meu ponto de partida.
O que é ser poeta?
O que seria o poeta? Vou tentar entender junto com vocês. 

Em seguida citou Torquato Neto:

Pessoal Intransferível

Escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos. É o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela. Nada no bolso e nas mãos. Sabendo : perigoso, divino, maravilhoso.

Poetar é simples, como dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena etc. Difícil é não correr com os versos debaixo do braço. Difícil é não cortar o cabelo quando a barra pesa. Difícil, pra quem não é poeta, é não trair a sua poesia, que, pensando bem, não é nada, se você está sempre pronto a temer tudo; menos o ridículo de declamar versinhos sorridentes. E sair por aí, ainda por cima sorridente mestre de cerimônias, “herdeiro” da poesia dos que levaram a coisa até o fim e continuam levando, graças a Deus.

E fique sabendo: quem não se arrisca não pode berrar. Citação: leve um homem e um boi ao matadouro. O que berrar mais na hora do perigo é o homem, nem que seja o boi. Adeusão.

Publicado na coluna “Geléia Geral”, 3ª feira, 14/09/71

Historicamente, a poesia faz parte da tradição oral. Foi apenas quando Guttenberg inventou a imprensa, na Idade Média, que a palavra escrita se difundiu (ainda que, num primeiro momento, apenas para os nobres e religiosos soubessem ler). Além disso, o livro nesse período não era caro como símbolo de status, mas estava no mesmo lugar simbólico que as obras de arte. Nesse período também, o poeta era figura ativa da literatura de cordel.

‘Acho que a poesia perdeu um pouco da sua expressividade com a invenção da imprensa. O poema ganha potência quando é incorporado, quando passa a fazer sentido sozinho. A palavra, quando vem com essa carga poética, traz encanto.’,  disse Chacal.

A partir daí, a discussão girou em torno da figura do contador de histórias, não tão comum nos dias de hoje, mas que tem o seu lugar na história, como é o caso dos griots, que ajudam a perpetuar as tradições de seus grupos por meio da tradição oral.

Já no final, Chacal representou um trecho do monólogo ‘Uma história à margem’, que conta a sua história e que está em cartaz terças e quartas, às 21h, na Casa de Cultura Laura Alvim.

 

Por Bárbara Reis Bolsistas PIBEX/UFRJ e Rute Casoy Assistente Pedagógica UQ.

Fonte da foto: http://g1.globo.com