Pós-aula MAR 6: Centro e Periferia na Dança

Uma aula sobre dança! Leia a pós-aula abaixo e contribua com seu olhar nos comentários.

Felipe Boaventura

Comunicação Universidade das Quebradas

 

Por Rafaela Nogueira – Bolsista PIBEX PACC\UFRJ

 

A professora de dança e coordenadora da UQ, Silvia Soter, levou para o último encontro uma leitura sobre a forma de criação da dança que é tão importante quanto se pensar o espaço da cidade que se habita. A aula foi uma PROVOCAÇÃO do que se entende como centro e periferia através da dança, atentando para a ideia de que a periferia na cidade do Rio de Janeiro se organiza de modo diferente de outros lugares. Porque a dança estaria ligada ao território, discurso e movimento.

Para Silvia, criação é composição, ou seja, “colocar junto”, unir, dispor de elementos um em relação ao outro e construir um todo que faça sentido. Isto é, a coreografia age como espaço de tensão na dança. Se o corpo dança, também responde a uma figuração social. A dança não só discute a história e contexto social, mas também sugere, levanta e antecipa questões. A partir de quatro pontos fundamentais na dança: linhas, ponto de vista, centro e periferia.

Silvia apresentou seis trechos de vídeos de danças. O primeiro, O lago dos cisnes, de Tchaikovsky, interpretada pela companhia The Royal Ballet, com propósito de a turma ativar e refletir o centro e a periferia e como estão representados coreograficamente, as posições de feminino e masculino. Muitos questionamentos acerca do número, por exemplo, a forma como o corpo de baile — composta por 32 bailarinas, 16 em cada ponta — poderia representar a periferia, e a solista, a bailarina principal, o centro do palco. O segundo vídeo, produzido por Jérome Bel, dá vida em cena a uma bailarina do corpo de baile que durante 20 anos de carreira encenou a mesma coreografia de o Lago dos cisnes, e que estava agora experimentando a atuação solo. Contudo, esse filme foi o que mais gerou incômodo nos alunos, pois provocou a sensação de que faltava um elemento central no palco. Segundo Silvia, a aflição é causada pela ausência de alguém no centro do palco distraindo os espectadores. O que Jérome fez foi incomodar a plateia ao mostrar uma bailarina dançando sem o corpo de baile, que a acompanhou durante toda a sua trajetória profissional. A partir desse incômodo, falou-se da carreira artística no balé, da hierarquia presente na dança, da ausência de negros e de sua base forte: a tradição da realeza do palácio de Versalhes.

O terceiro vídeo, Beach birds for camera (Pássaros da praia para a câmera), da Cia. Merce Cunningham, lançou outras perspectivas. Trouxe para a cena uma espécie de pássaro livre, tirando a centralidade do cisne, considerada uma ave nobre. Não só a ideia do pássaro é quebrada, como a ideia de centro e periferia é desmanchada e corpos se misturam nos múltiplos focos em que o espaço central é pulverizado. O quarto, o quinto e o sexto vídeos, adaptado pela Cia. de Dança Lia Rodrigues, e Cia. Dani Lima falam sobre as partes do todo; e o H2, Grupo de Rua de Niterói. Combinam em séries de companhias de danças contemporâneas que buscam provocar o discurso comum, os valores nos diagnósticos territoriais e a situação do movimento do corpo social periférico perante a centralidade do poder cultural. Principalmente no que implica o olhar do espectador, limitado pela impossibilidade de apreensão do todo; a própria dança ser limitada por padrões físicos ou de gênero; e a forma como cada um recebe o recado de uma obra de arte.

Segundo Silvia Soter, os quatro pontos que inserem a dança não foram criados por acaso. Sobretudo, cabe a gente pensar nela como um corpo social e um corpo artístico que sofreu muitos tabus. Por mais que o corpo de baile clássico ainda conserve o lugar do centro e do periférico, há muitas temporalidades que transformaram esse pensamento e constroem uma nova cena para o corpo incomodar e problematizar os sintomas que ainda geram conflitos entre os pontos de diálogos esféricos e interpessoais. Vale para o artista a vontade de tirar a plateia do seu lugar comum de espectador, e fazê-la interagir de maneira atuante.