Pós-aula: Prosa Modernista com Fred Coelho

” […] Às vinte horas Macunaíma chegou na biboca levando debaixo do braço o garrafão de pinga obrigatório. Já tinha muita gente lá, gente direita, gente pobre, advogados garçons pedreiros meias-colheres deputados gatunos, todas essas gentes e a função ia principiando”.
Trecho do capítulo Macumba, Macunaíma de Mario de Andrade, de 1928.

Durante a aula de hoje, o Professor Fred Coelho, nos mostrou brevemente, a forma como a prosa modernista vem sendo lida e absorvida, desde a realização da Semana de Arte Moderna, em 1922, realizada em São Paulo.

Segundo Fred, o Movimento Modernista levou 50 anos para ser visto como um movimento cultural importante. A literatura modernista, por exemplo, foi negada durante muito tempo. A prosa integrante deste movimento foi menos lida que a prosa produzida no período anterior. A importância da literatura modernista no meio intelectual, começou nos anos de 1950 e 1960, com o surgimento da crítica universitária. A partir deste momento, a literatura modernista começa a aparecer com força em livros e em textos críticos. Mesmo diante desta mudança, ela ainda é muito mais conhecida do que propriamente lida, até os dias de hoje.

O Movimento Modernista consistiu em uma reivindicação dos autores brasileiros da estética moderna. O grupo de São Paulo era formado por jovens de ação, que visavam através de seus escritos a implementação destas ações. O objetivo era estabelecer o novo, como uma possibilidade permanente na cultura, que agora tinha que dar conta de outras formas de comunicação como a publicidade, o cinema, a fotografia, o gramofone e o design. O desafio consistia em incorporar e implementar a nova forma de escrever, que era mais próxima da linguagem falada.

A prosa moderna não foi o cerne da produção modernista. De acordo com Fred, a poesia modernista que surge em formas inovadoras com o verso livre, poema piada, poesia da fala, teve mais destaque. No entanto a prosa não se fez apenas em romances, mas também em manifestos e revistas, que eram espaços privilegiados de circulação. A prosa tinha como uma de suas características o uso das multilínguas, que consistia na utilização de palavras em português, francês, inglês e gírias nos textos. Ao incorporar essas línguas, que circulavam com certa fluência na época, os autores buscavam de forma crítica, questionar o uso que elas assumiam no cotidiano.

A importância do trabalho destes escritores, que não se destacam como grandes romancistas da cultura brasileira, se dá pelas suas ousadias, que   possibilitaram mudanças nos períodos seguintes. Citando Fred, podemos dizer que “tudo que veio depois deles está impregnado pela força fatal do modernismo”.

Se hoje é possível fazer uma prosa fora dos padrões acadêmicos estabelecidos desde o século XIX, devemos isso aos modernistas.

Como exemplos desta prosa o professor citou trechos dos seguintes livros: Memórias Sentimentais de João Miramar (1924) e  Macunaíma (1928), ambos de  Oswald de Andrade.

Fred finalizou sua exposição apresentando o seguinte questionamento: Se o fato do sambista carioca Donga (1890 -1974) ter feito a primeira gravação gramofônica com a música “Pelo Telefone”, em 1917, tivesse sido mais observado que os eventos que marcaram a exposição de Anita Malffati no mesmo ano, e que culminaram  na Semana de Arte de Moderna de 1922, talvez a história de nossa cultura tivesse tomado outro caminho. E qual seria a visão sobre a cultura da periferia, se os intelectuais dos anos 50 tivessem tratado um autor de samba negro, descendente direto de escravos, que foi o primeiro a registrar um samba, da mesma forma que trataram os escritores que participaram da semana de arte moderna?

Raquel Lima bolsista PIBEX – UFRJ-FM-TO