Pré-aula – 13 novembro de 2012

Todos nós ouvimos e contamos histórias. A narração está presente em nosso cotidiano, em toda sorte de relatos. Nas cantigas de roda e nas anedotas, nas telenovelas e nos filmes. Você concorda com essa ideia?

Na próxima aula, Sandra e José Henrique querem partilhar com você o prazer de contar e de ouvir histórias, um hábito que já existia nas sociedades primitivas e que permitiu que chegassem até nós os mitos, as lendas e os contos tradicionais. O filósofo e crítico literário Walter Benjamin distingue dois tipos básicos de narradores: alguém que vem de longe ou aquele que ganhou a vida sem sair do seu país e, portanto, conhece suas histórias e tradições. Ele concretiza esses dois grupos de narradores nas figuras de seus representantes arcaicos, o marinheiro comerciante e o camponês sedentário.

Mesmo com o surgimento da escrita, a narração oral continuou tendo um papel importante no entretenimento das comunidades e na formação das novas gerações. Para Walter Benjamin, a perda da capacidade de contar e de compartilhar experiências está associada às mudanças da sociedade moderna, com suas novas maneiras de trabalhar e conviver. Segundo ele,

Contar histórias sempre foi a arte de contá-las de novo, e ela se perde quando as histórias não são mais conservadas. Ela se perde porque ninguém mais fia ou tece enquanto ouve a história. Quanto mais o ouvinte se esquece de si mesmo, mais profundamente se grava nele o que é ouvido. Quando o ritmo do trabalho se apodera dele, ele escuta as histórias de tal maneira que adquire espontaneamente o dom de narrá-las. Assim se teceu a rede em que está guardado o dom narrativo. E assim essa rede se desfaz hoje por todos os lados, depois de ter sido tecida, há milênios, em torno das mais antigas formas de trabalho manual. (BENJAMIN, 1994, p. 205)

Quem conta histórias sabe que a narração oral conta com a presença do ouvinte, que apreende não só as palavras, mas também gestos e outros recursos expressivos. Já a escrita é dirigida a um interlocutor ausente, quase sempre imaginado. Por isso, as explicações sobre os personagens e as situações têm de ser mais precisas. Transcrever uma narrativa tradicional torna-se, assim, uma tarefa bastante complexa.

No Brasil, um imenso acervo de textos orais sobrevive na memória do povo. Contados e recontados todos os dias, entre as populações tradicionais ou entre os habitantes das grandes cidades, vêm sendo transcritos e recriados em livros como o que vamos ler nos próximos dias.

BENJAMIN, Walter. O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994. P. 195-221.