Projetos, cultura e o sujeito no meio desta vida dura, por Clécia Oliveira

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Dias efervescentes pensando em cultura… Mais uma vez, a intensidade de agora é devido à construção de novos projetos, que não deixam de ser de vida, profissão, lazer e afeto. O momento do planejamento é uma fase muito rica, na qual cabem análises sobre o que já fizemos. Como eram e como são/estão os contextos, as interferências internas e externas. A relevância e a contribuição para o meio em que vivemos e até quem somos em relação aos resultados esperados.Depois de anos mudando de ambientes, em busca de aprendizado, oportunidades e reflexões abrangentes, cada passo não deixa de se relacionar ao vasto campo da cultura em seus diversos aspectos. As ideias e os ideais não têm fim. Eles “sobrevivem” em torno das produções culturais amplamente divulgadas; das que se espalham em nichos por região; das políticas que sempre nos esbarram; da mídia que mostra alguns trabalhos e influencia novas manifestações; do que ainda permanece escondido ou visto somente pelos próximos; de como acontece nos setores públicos e privados, na economia, no marketing; e a criatividade em torno disso tudo… “Relações de poder” está entre as palavras-chaves.

Ufa! São só alguns dos pontos que inspiram, desanimam ou animam, confrontam valores e ações, mas tocam e fazem borbulhar ideias novas que parecem não caber em uma só cabeça. Mas, além do que podemos fazer individualmente com nossos planos, não tem como deixar de pensar em colaboração, formação de redes, estabelecimento de parcerias e em como definir novas formas de produção, contribuindo para formar novas culturas.

Balanços constantes têm relevância. Por isso, é enriquecedora a saudade de tempos atrás, quando o desejo principal era simplesmente fazer, ver acontecer e acessar ao máximo o que a cultura oferecesse. No entanto, como isso tudo era só uma parte do todo que envolve vivenciar e fazer cultura, aos poucos, gritaram outros fatores que se relacionam a ela.

Não é que em outros momentos havia pouca reflexão ou ignorância em relação às entrelinhas dos caminhos que se cruzam na cultura do nosso país, porém quanto mais vivência, mais oportunidades temos de comprovar hipóteses negativas e de sentir, ao longo dos anos, o cansaço e o peso da labuta por nos mantermos nessa vida, enfrentando os obstáculos para fazer acontecer. O lado bom é que, entre médios e baixos, a gente se diverte, e seja como for, realiza. E há ainda, os momentos de pausas, reinício de processos, reinvenção, espera pelos altos e contínuos aprendizados. Sempre há tempo de fazer melhor.

O ciclo se repete e se compara à obsessão de rodar e rodar, mudar de área, fazer mais cursos para ampliar a formação, mudar de cidade, de objetos de empolgação; e ver que permanece com o mesmo fio condutor, que faz conexões, se curva, dá voltas, transforma-se em infinito e faz continuarem os mesmos objetivos. Enquanto houver vida, haverá amor pelas artes, pelo conhecimento, pela cultura de forma geral. Estar de qualquer maneira envolvido nisso é o principal objetivo. Contudo, a grande certeza é que as coisas acontecem quando investimos. Que não se cansem os projetos.

Lembro-me agora de um poema – de outros tempos – para matar a saudade daquela época e comemorar o hoje e a bagagem que é sempre requisitada.

 

Arte

 Somos partes

Somos ocos

Ou somos Arte?

Começamos com dentes fortes

Acabamos sem força para usá-los

Somos obras modulares

Naturalmente copulares

Mutáveis por abraçá-los.

A meta não é abrirmos espaço para nossas criações artificiais

Torná-las a exposição mais disputada

Que só entende quem sabe mais.

Porém não mudam como nosco

Mas permanecem vivas sem dentes tortos

E mesmo sendo nossas partes

Quem são ocos?

Quem somos Arte?

 

Clécia Oliveira

É pensadora, Poeta, Pesquisadora, Revisora de Textos, Produtora; outrora Professora; agora em pleno vapor com estudos/práticas em Cinema e Jornalismo. Viajante sempre em busca de realidades e novos mundos…

(Foto: Alberto Pucheu. Fonte: aqui)