Rogéria Reis escreve inspirada pelo filme de Sandra Lima

Muita coisa pode dizer, em suas narrativas, um poeta. E nada também. Otimismo, amor, pilhéria, bazófia e uma outra palavra que me fugiu à memoria nesse momento, são temáticas de alguns. Hecatombes, massacres, morte, ódio, as escolhidas por outros. Da morte, muitas vezes discursei em poesias e prosas. Ou melhor, em poesias tentei, pois sou péssima poeta. Falei de ódio? Porcaria nenhuma! Só sei falar mesmo é de amor como a maioria das mulheres, embora, a vontade de ser ao menos um pouquinho diferente. Mas que diferença, que nada! No fundo todo mundo é igual! Todo mundo chora, ri, tem sentimentos bons e ruins, todo mundo acerta e todo mundo erra sempre… ah, e todo mundo ama… O amor… Acabo de assistir um vídeo lindo da minha amiga quebradeira Sandra E Tiago Produtores, sobre um curta metragem de nome “Além do Azul do mar”. Chorei tanto… E eu que não consigo cumprir promessas nem para mim mesma, pois havia prometido não mais chorar por coisa alguma e já falei disso aqui, lembra? Chorar é sempre o que nós mulheres fazemos. Também prometo todos os dias que vou fechar minha conta nessa droga de rede social. Mas por causa dos amigos, não consigo. O fato foi que não quis vir direto ao facebook, como sempre faço e ultimamente com muita reverência e digo que até com certo medo. Sim, medo de me deparar com as minhas próprias fragilidades. Mas não fujo à luta contra as minhas “fraquezas“. Espero vencê-las heroicamente. Conto sempre com a ajuda de Deus para isso. São tantos amores, tantos ódios, tantos ataques, tantas indiferenças, tantas bajulações, tantas verdades e mentiras, tanto disse que não disse, tantos julgamentos, tantas “moraes” (abro esse parênteses aqui para homenagear o poetinha Vinícius de Moraes no que seriam os seus cem anos não fosse a sua MORTE). Enfim, são tantos e tantas… sei lá mais o quê! Mas voltando a falar de AMOR… Depois de muito chorar com o curta da talentosa cineasta quebradeira que postarei para ilustrar minha linha do tempo, tem uma canção do Raul Seixas que diz que não amamos uma vez só na vida. Nunca pensei que um dia iria refletir sobre ela. Algumas pessoas podem dizer isso bem melhor que outras, pois já são mestres na arte do amor. Já viveram tantas aventuras… Mas seriam esses sentimentos, amor de verdade ou sucessivos “enganos“? Há duas correntes: Uma, defende com unhas e dentes e com um forte apelo midiático, que há várias formas de amar e outra, grita como que em um deserto que só existe uma. Me parece que a humanidade tem preferido a primeira. Lembrando aqui que também faço parte da humanidade. Sou aprendiz nesse planeta. Acabei de sair do OVO ou da nave, que seja. Surreal isso, não? Parece até coisa do Salvador Dali. E ainda na minha fase de feto, nascituro, com se diz hoje em dia, fui programada não para pensar, mas para nunca cometer enganos na vida. Como? Ora, é fácil! Basta não fugir dos padrões morais, dos bons costumes, das leis. Mas esqueceram de me informar da relativização do mundo. O que é moral e legal hoje, amanhã pode não mais ser. Vivemos na era do Nietzsche, onde os valores morais ainda persistem mas só que anêmicos. Nossa geração sofre gravemente de anemia moral. Os sintomas são uma moral abalada, fraca, confusa, sem referências seja da religião, (pois Deus é morto), seja da família. E o que é pior?! Todos nós de forma seja voluntária, servil ou escravizada, nos prostramos diante do deus capital selvagem ou seria do, CAPETAL? Ele é quem dita as regras. É megalomaníaco, pensa que é detentor de todo poder. Se assentou em um trono vazio, vacante de um Deus que acredita estar morto; Um Deus que bem antes foi negado, rejeitado e sacrificado pela própria humanidade. Tornou-se legítimo por vontade dessa humanidade. Conta com seus bajuladores, com seus arautos, seus vassalos, seus criados, seus escravos, seu harém, seus burgos, seus sacerdotes e sacerdotisas, enfim com todos os elementos descritos numa autêntica monarquia. Ordena a criação de novas tendências, carimba os editos com seu anel e lá se vai a tropa disposta a cumpri-los seja para matar ou para morrer. E assim, esse reinado se expande e se torna o novo império, o novo mundo. Com tamanha força armamentista, econômica e tecnológica, derrubou até muros e ousa ser maior do que o Deus criador. Derrubar muros é a sua meta. Quebrar paradigmas, padrões e com um detalhe, desde que tudo isso se reverta em benefícios para os cofres do seu ilusório reinado. Um reino autêntico, mas, lamento informar, construído na areia e na beira do mar. Basta apenas uma onda mais forte para destruí-lo totalmente. Antes disso, a brisa já o vai levando à ruínas pouco a pouco, dia após dia. Esse rei é muito forte mas vai passar um dia, como tudo passa na vida. Mas deixando o rei “CAPETAL” de lado, pois seu fim está mais próximo de cada um de nós do que imaginamos e lembrando aqui, que todo nosso ego se resumirá em um túmulo, uma cova, enfim, na morte – sinônimos de um fim que a todos, em termos terrenos, nivela. A cova para alguns é usada até como padrão de medida de amor. Eu, particularmente, prefiro que o amor tenha o tamanho de uma flor de ouro, como de ouro devem ser, as alianças, em uma simbologia de durabilidade. Mas, isso sou eu e quem penso que sou, achando alguma coisa com esse meu cérebro de “galinha“, nesse mundo relativizado, globalizado? Nós mulheres, em geral, somos programadas para amar apenas uma vez, como diz a moral e os bons costumes. Quem disse? Que moral? Que bons costumes? Não há mais nada! “Enganos, enganos, enganos! Enganos que com o passar dos anos só aumentarão.” (Peço licença aqui para parafrasear e homenagear o verdadeiro poeta e não a cópia.) Não foi Cabral quem descobriu o Brasil. A África já foi sim, monoteísta e os ativistas só salvaram os cães e deixaram os ratos para trás e na medida que revirarmos o baú, só encontraremos mais e mais enganos. Fui programada no “ventre” do OVO, (não fui abortada antes, pela “galinha”) para nunca errar, como já disse. Digo “galinha” porque mulher e galinha hoje são praticamente a mesma coisa, não estou certa? Nesse momento faço a minha interpretação daquele texto da Clarice Lispector, sobre o ovo. Um texto surreal, diga-se de passagem. Talvez a representação de uma ideia, de um sonho mas que se tornou real ao longo dos anos. Seria a arte imitando a vida ou a vida imitando a arte. Quem nasceu primeiro? O OVO ou a GALINHA? É o sistema matriarcal que retorna? É a fênix que ressurge das cinzas? Não! é o nOVO! É a “mulher galinha“! Ora, não existiu o homem pássaro? Então, agora chegou a vez da “mulher galinha” e detalhe, com cérebro semelhante e tudo mais, a uma galinha. Viu só, como sonhar é perigoso. Representar os sonhos então, nem me fale! O relógio, o tempo se desfazendo do Dali, foi profético? Ou não seria essa mania que temos de imitar a arte? O Poema do Mahabharata que narra uma cena apocalíptica semelhante aos ocorridos em Hiroshima e Nagazaki seria profético? Ou talvez antes, bem antes de registros históricos, dos escritos, tenha sido uma imitação da vida? Sei lá! Isso é cubo mágico! Um enigma indecifrável para o meu cérebro de “galinha“, já que estou falando tanto de galináceos, de ilusionismos, de ilusão de ótica nos últimos dias. Nada é real mesmo! As notícias não são reais, as estatísticas não são reais. Tudo é só um olhar sob uma perspectiva, como diz o relativismo moral e cultural. Me permitiram nascer do OVO, certo? Então tenho cloaca no lugar de ventre e nela cabe tanta coisa… Até biografias, quem diria?! É o surrealismo, meu amor! É o pós-modernismo e os cambal a quatro. É pau de dar em doido também mas quem são os sadios da nossa era? Sinceramente… não sei. Vivo o “Ensaio de uma cegueira”? É cego guiando cego e todos juntos despencando em um abismo? Valha-me Deus! Mas fugi do amor novamente, percebeu? Se amar é engano, permita-me o engano mais uma vez e sinceramente, preferiria amar a mesma pessoa e de modo bem confortável, ou seja dentro dos padrões da lei, da moral e dos bons costumes. Porém nem o amor hoje em dia é mais real. É virtual. Mas amor é amor. Lamento dizer.

Rogéria Reis é quebradeira da 4ª edição e Sandra Lima é quebradeira da 3ª edição

 Veja o filme Além do Mar Azul de Sandra Lima e Thiago Medeiros de Souza aqui.

 

Imagem: Cena do filme “Além do Mar Azul”, de  Sandra Lima e Thiago Medeiros de Souza.