Shakespeare por Fernanda Medeiros

Na aula da última terça-feira, a professora Fernanda Medeiros, do setor de literatura inglesa da Uerj, falou sobre a palavra em Shakespeare. Aplaudida de pé, iniciou a aula com uma contextualização do momento histórico antes de pensar a obra.

Em Shakespeare, mesmo no discurso lírico dos sonetos, o “eu” que fala é teatral, e nas peças é a palavra que cria os figurinos e os personagens. Joias do teatro elisabetano, as peças de Shakespeare eram normalmente encenadas com pouquíssimos figurinos e parcos cenários. O que era dito possuía uma importância tão grande que, durante esse período, a expressão utilizada para assistir a uma peça era to hear a play, que em tradução literal significa “escutar a peça”.

Shakespeare (1564 – 1616) viveu em um mundo em transformação. A transição do mundo medieval para o moderno e todos os questionamentos que isso provoca são palpáveis em sua obra. Em termos políticos, é muito recente a mudança de um regime feudal para a monarquia absolutista. Já na religião, a reforma protestante sacode o cristianismo. Na Inglaterra, essas mudanças foram ainda mais radicais. A dinastia Tudor, que reinou de 1485 a 1603, assumiu o trono depois da violenta Guerra das Rosas, e precisou fazer uma série de alianças políticas para manter-se no poder. Em 1533, Henrique VIII rompe com a Igreja Católica e funda a Igreja Anglicana. Esse clima de instabilidade só é superado quando Elizabeth I, filha de Henrique VIII, assume o trono em 1558. Além do mais, a geração de Shakespeare também presenciou a passagem da dinastia Tudor para a dinastia Stuart, em 1603, vivendo um momento de enorme ansiedade. O contexto em que Shakespeare viveu é representado em sua obra, ainda que indiretamente.

Uma das ferramentas poéticas mais utilizadas por Shakespeare é o pentâmetro iâmbico, verso cujo metro é muito próximo do decassílabo, e que é composto de cinco pés iambos, ou seja, cinco unidades de um acento fraco seguido por um acento forte. No inglês, o pentâmetro iâmbico normalmente utiliza a tonicidade das palavras para criar o ritmo, alternando os versos em sílabas tônicas e não tônicas. Um exemplo famoso encontra-se em Ato III, cena I no mais popular verso de Hamlet to be or not to be, that is the question (ser ou não ser, eis a questão).

Além disso, Shakespeare também é muito conhecido por sua habilidade na composição de sonetos, e é capaz de fazer uso cênico dessa forma poética de modo bastante interessante. Um exemplo é a cena em que Romeu e Julieta se conhecem, onde é composto um soneto com as suas falas, para mostrar que eles formam um mundo à parte da realidade.

Romeu e Julieta, 1978, ato 1 cena 5

 

Dados sobre a contribuição de William Shakespeare para a língua inglesa

De 1500 a 1650 12.000 palavras entraram na língua inglesa. Hoje, acredita-se que  Shakespeare tenha ‘cunhado’ ou sido o primeiro a registrar 2.035. Só em Hamlet, 600 palavras aparecem registradas pela primeira vez. Além disso, ele também utilizou 309 palavras com o prefixo ‘un’, que pode ser comparado, à grosso modo, com o sufixo ‘des’ utilizado em português.

  • 18 comédias
  • 10 peças históricas
  • 10 tragédias
  • 154 sonetos
  • 3 poemas narrativos

Bárbara Reis – Bolsista Pibex/UFRJ