Território das Quebradas III

E chegou o dia de mais um Território das Quebradas! A terceira edição do seminário trouxe para a UQ o tema geral Memórias e redes de cultura na periferia. Para abordar o assunto, os alunos Marcelo do Patrocínio, Andressa Gonçalves, Sheila Suzane, Júlio César dos Anjos, Flávia Souza e Igor Costa apresentaram suas ideias e questões e, para finalizar, o sarau contou com mais uma demonstração de puro talento de nossos Quebradeiros. Um dia inesquecível nas Quebradas!

Marcelo Patrocínio trouxe à UQ A experiência de Manguinhos, e mostrou como a biblioteca onde trabalha surgiu. Segundo o Quebradeiro, desde a inauguração do ambiente, em abril desse ano, já são mais de 500 usuários frequentando o espaço diariamente – e o número deve dobrar no ano que vem. “Temos laboratórios de mídias, de produção editorial, um projeto de uma revista, aulas e oficinas de teatro”. Mas não foi apenas literatura e arte que Biblioteca Parque de Manguinhos levou para a comunidade: “O mais importante foi trazer desenvolvimento para Manguinhos. Agora tem UPA, estão fazendo uma academia ao ar livre”, disse.

Em seguida, Andressa Gonçalves apresentou o tema Bibliotecas comunitárias na carona de sua própria experiência na Biblioteca Quilombo dos Poetas, em Senador Camará. “Eu moro em comunidade e sempre ouvi que brasileiro não sabe ou não gosta de ler, e isso não é verdade”, afirmou. Para a Quebradeira, o que falta é incentivo. “Colocamos as revistas coloridas e chamativas na janela, para atrair as crianças. E os livros infantis na porta, para que elas entrem aos poucos.” Andressa passou dicas importantes sobre como criar e manter uma biblioteca comunitária: aceitar todo o tipo de doação, mas não se prender aos livros, além de se ater apenas àqueles que servirão à sua comunidade. “O que não servir doe para outros”, concluiu.

Políticas públicas culturais para a periferia foi o tema escolhido pela Quebradeira Sheila Suzane, que discutiu a importância de valorizar a individualidade de cada lugar, sem interferir na dinâmica local. “A forma de trabalho é a leitura do mundo que aquela periferia tem. E temos que respeitar isso acima de tudo”, declarou. Para ela, é difícil se pensar em uma política cultural pública, já que cultura é plural. Desse modo, todo o processo deve ser feito com extremo cuidado e análise: “Precisamos pensar até que ponto é interessante pôr determinado incentivo em determinado lugar”. O segredo, acima de tudo, é questionamento e diálogo.

Júlio César dos Anjos, por sua vez, trouxe a polêmica discussão sobre Cotas na universidade. Segundo ele, o sistema de cotas seria baseado no norte-americano. “Os EUA tiveram problemas parecidos com os nossos, com a escravidão e os indígenas.” Júlio também citou o sociólogo francês Pierre Bourdieu e seus pensamentos sobre o capital herdado.

Flávia Souza apresentou sua longa relação com Hip Hop e cidadania. A Quebradeira falou sobre a migração do movimento das favelas da Jamaica para os guetos americanos, e as consequências desse fato. Flávia enfatizou a importância desse estilo de música e sua forte ligação pessoal com o mesmo: “O Hip Hop sempre teve essa missão de passar uma mensagem. Foi por causa dele que me tornei o que sou”, confessou.

Para encerrar o Território, Igor Costa falou sobre a experiência de Autogestão e formas de organização libertárias. O tema é resultado de anos de vivência com o grupo Os neguinhos produção, que começou a aplicar as técnicas de autogestão no instinto, sem nem conhecer o processo. “Quando descobrimos que fazíamos isso, corremos para estudar e aprender mais. Assim desenvolvemos mais ainda nosso negócio.” Segundo Igor, hoje o grupo consegue se auto-administrar, gravando seus próprios CDs e trocando oportunidades com outros grupos Brasil afora.

Fechando o dia com excelência, o Sarau do Território das Quebradas agitou, mais uma vez, a galera. Igor e Flávia cantaram raps próprios e fizeram todos os Quebradeiros cantarem junto. Andressa fez a leitura de um texto em homenagem à experiência nas Quebradas, e Marcelo encenou um trecho de um de seus contos. Além disso tudo, Júlio César apresentou um vídeo.

Agora, aproveitando o gancho da polêmica discutida por todos os Quebradeiros e unindo as ideias da mesa do Território das Quebradas III, fica a pergunta: como se adaptar e modificar o meio, levando cultura e cidadania para a periferia?

(texto: Ana Carolina Correia, bolsista PIBEX 2011)