Tem percussão na UQ: Bebeto Abrantes exibe “As Batidas do Samba” para quebradeiros

As coordenadoras gerais da UQ, Numa Ciro e Heloísa Buarque de Hollanda, e entre elas, o diretor Bebeto Abranches (Crédito: Pedro Diego Rocha)

Texto escrito por Pedro Diego Rocha

A tarde do último encontro na UQ, dia 14 de junho, foi de música e audiovisual ao som de percussão. Os alunos assistiram ao documentário “As Batidas do Samba”, que fala da evolução dos instrumentos ao longo da história do mais carioca dos ritmos. O diretor do projeto, Bebeto Abrantes, esteve presente para um debate animado. O jornalista e escritor musical Luiz Fernando Vianna, responsável pela consultoria musical e argumento do filme, fez as honras de apresentá-lo à turma.

Com a proposta de um panorama do tema principal, escolheu-se mostrar a trajetória da família Marçal, com Armando Marçal, o avô; Mestre Marçal, o pai e Marçalzinho, o neto. Este último vai ganhando importância ao longo do filme, quase que o protagonizando. “Com esses três, você quase que conta a história da percussão no samba”, comentou o jornalista. Luiz explicou que “a percussão é uma coisa central no samba”, presente nele até mesmo por sua ausência. “Pelo Telefone”, primeira canção deste gênero gravada em 1916, tem muito de outro ritmo, o maxixe, e nada de batidas, que, segundo ele, só entraram nas músicas de estúdio em 1929, com a chegada do surdo, tamborim e da cuíca.

Durante os 82 minutos de exibição de “As Batidas do Samba”, muitos dos presentes se animaram e cantarolaram sucessos como “Batuque da Cozinha”, “Ilu Ayê” e “Doce Refúgio”, com os personagens aos quais estavam assistindo. O filme faz um grande mergulho neste mundo rico em detalhes do samba com uma passagem pelo Quilombo de São José, em Valença, para mostrar o samba rural, com o jongo e o calango. Os sambas das escolas de samba, das orquestras e estúdios também marcam presença, com depoimentos de Moacyr Luz, Monarco e muitos outros mestres neste tema. Ao final, uma surpresa: a quebradeira Thayani Pinto, que estava na “plateia”, contou ter participado como assistente de edição do filme.

As coordenadoras gerais da UQ, Numa Ciro e Heloísa Buarque de Hollanda, e entre elas, o diretor Bebeto Abrantes (Crédito: Pedro Diego Rocha)
As coordenadoras gerais da UQ, Numa Ciro e Heloísa Buarque de Hollanda, e entre elas, o diretor Bebeto Abrantes (Crédito: Pedro Diego Rocha)

“O samba tem uma vida”

Para Bebeto Abrantes, visivelmente emocionado, a apresentação na UQ foi mais importante que o comum. “Eu fiz este filme me separando de um casamento de 15 anos. É uma alegria ver um filme cinco anos depois e eu me emocionar com cada plano”, revelou ele, sobre a experiência de poder ter visto os bastidores do mundo do samba com Marçalzinho, Wilson das Neves, entre outros, em dez, onze diárias de filmagem, tempo considerado curto para a gravação de um longa metragem.

“Uma coisa que me impressionou é que o samba é uma presença cultural na vida da gente, que todo mundo diz que é a nossa identidade, mas temos uma visão clichê e estereotipada”, falou Bebeto sobre o samba não se resumir apenas ao Carnaval, visão que muitas pessoas têm, de acordo com ele. “Cotidianamente, o samba tem uma vida. Há um circuito que a gente desconhece. Um calendário alternativo que vai por baixo da cultura mainstream das pessoas que vivem do samba”, ressalta o diretor, citando o Cacique de Ramos e o samba do trabalhador, de Moacyr Luz, como exemplos.

Bebeto ouvia falar da UQ por meio de sua amiga, a coordenadora geral da UQ Numa Ciro. Ao chegar lá e ver o astral de todos, ele conta que suas expectativas foram confirmadas. “Um centro de pesquisa criado pela Heloisa e Numa, uma universidade em que a inovação e a solidariedade têm lugar. Que o interesse pela vida e pelas coisas tem lugar. Para mim foi uma alegria passar a tarde e ver novamente o filme com vocês. O samba é muito maior do que a grande mídia mostra. É cultura”, finalizou ele.

Para quem não pôde assistir, segue abaixo um trecho do filme “As Batidas do Samba”: